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| Mara Paiva (à dir.) e Fabianne Belle (à esq.) ficaram viúvas por causa do acidente e agora se unem para buscar respostas e soluções (Foto: Gazeta Esportiva) |
Prestes a completar um ano, o trágico
acidente aéreo que matou 71 pessoas, entre elas quase toda a delegação
da Chapecoense que viajava rumo à Colômbia para a final da Copa
Sul-Americana, ainda está longe de ser resolvido. Além de todo o
imbróglio jurídico e de investigação, alguns temas polêmicos ainda
circundam a relação do clube catarinense com as famílias das vítimas que
estavam no fatídico voo da LaMia no dia 29 de novembro de 2016.
Na última segunda-feira, um novo capítulo
dessa história foi escrito diante da parceria firmada entre a
Chapecoense e a Associação Brasileira da Vítimas do Acidente com a
Chapecoense (ABRAVIC). Segundo nota oficial, que ainda traz o presidente
da Chape, Plinio David de Nes Filho, ao lado de Gabriel de Andrade,
presidente da ABRAVIC, o clube vai disponibilizar R$ 28,8 mil por mês à
associação citada para que seja empregado como uma espécie de auxílio
saúde. Com isso, cada família vai receber pouco mais de R$ 400,00
mensais até outubro de 2018, data de vencimento do compromisso e do
início de novas tratativas sobre o tema.
Dúvidas e explicações
Como a ABRAVIC tem pouco mais da metade do número de famílias associadas em comparação com a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas (AFAV-C) e é presidida por um advogado alheio ao acidente aéreo de forma pessoal, o contrato causou estranheza e gerou desconforto.
Como a ABRAVIC tem pouco mais da metade do número de famílias associadas em comparação com a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas (AFAV-C) e é presidida por um advogado alheio ao acidente aéreo de forma pessoal, o contrato causou estranheza e gerou desconforto.
“Nós entendemos que algo deveria ser feio.
Eles (ABRAVIC) pediram auxílio mensal e recursos, nós sugerimos e aí
foi uma observação feita pela diretoria de que isso seria feito na
saúde, e eles aceitaram. Esse recurso está disponível para todas as 64
famílias. Todo o quadro da AFAV-C ou as famílias que não participam de
nenhuma das duas associações têm o recurso acessível. Foi exigência da
diretoria da Chapecoense”, explicou Fernando Mattos, diretor de
comunicação da Chapecoense e responsável por intermediar as conversas
junto aos familiares.
Ainda segundo Mattos, “todos estavam
cientes disso desde o começo” e a parceria só foi feita com a ABRAVIC e
não com a AFAV-C “porque a responsabilidade para prestação de contas é
da ABRAVIC. A ABRAVIC recebe o dinheiro e presta contas”.
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| O presidente da Chapecoense, Plinio David de Nes Filho (ao centro) e Gabriel Andrade, presidente da ABRAVIC (à dir.) (Foto: Divulgação/ACF) |
A presença de uma pessoa que nunca teve
relação com o clube ou com qualquer uma das vítimas até o dia do
acidente como presidente e fundador da uma associação que busca maneiras
de colaborar com as famílias por meio de patrocínios e/ou auxílios
financeiros mensais também gera desconfiança.
“O Gabriel (de Andrade, presidente da
ABRAVIC), desde o primeiro momento com o clube, nos passou uma boa
impressão, já esteve em Chapecó em cinco oportunidades e tem o respaldo
de várias famílias que são vítimas do episódio. Nós temos o mesmo
relacionamento com AFAV-C, de bom nível. O Gabriel está aqui um pouco
mais tempo, eu conheci o Gabriel através de familiares das vítimas do
acidente, sempre teve um contato de alto nível”, afirmou Fernando
Mattos, antes de revelar uma troca programada no comando da ABRAVIC.
“Ele está encerrando a sua gestão. Ele
participou muito mais como um técnico, ele se encarregou de toda
constituição por acreditar na causa humanitária. Já estão fazendo um
processo de sucessão dentro da ABRAVIC, ele já tem um nome para
assumir”.
Divergência e prioridades
Responsável por representar a maior parte das famílias das vítimas do acidente aéreo que transportava não só a delegação da Chapecoense, como também jornalistas e convidados, a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas (AFAV-C) se mostrou surpresa com o anúncio do acordo entre o clube e a ABRAVIC.
Responsável por representar a maior parte das famílias das vítimas do acidente aéreo que transportava não só a delegação da Chapecoense, como também jornalistas e convidados, a Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas (AFAV-C) se mostrou surpresa com o anúncio do acordo entre o clube e a ABRAVIC.
“Nós sabíamos que estava em análise,
ouvimos do clube que todos as famílias teriam acesso a isso, mas estava
em análise. Soubemos que foi aprovado pela imprensa”, disse Mara Paiva,
viúva do ex-jogador, técnico e comentarista Mario Sérgio e
vice-presidente da AFAV-C.
“Eu seria mentirosa se eu dissesse que isso não foi discutido. Foi, sim,
na última reunião. Mas, ao invés de repassar o numerário para a
associação, a ideia é que fosse fechado um convênio com uma empresa de
saúde. A coisa parou aí. Nós solicitamos que fosse feito um convênio com
uma parceria de saúde e a coisa parou aí. Era um projeto. Nós não
sabíamos que esse numerário seria depositado para a ABRAVIC”, avisou.
Mara Paiva deixou claro o site Gazeta Esportiva
que a AFAV-C não vai se opor a qualquer iniciativa que seja benéfica às
famílias e rechaçou uma rivalidade com a ABRAVIC, porém, não deixou de
ponderar as prioridades distintas das duas associações e enfatizou que o
acordo selado na última segunda-feira está longe de ser considerado uma
vitória, apesar da recente aproximação com a Chapecoense depois de um
início de relação bastante conturbado.
“Nós não temos nenhum interesse em fazer
trabalho assistencialista para as famílias. Queremos resolver de forma
ampla e definitiva. Nós achamos que esse trabalho da ABRAVIC é
importante, só que não pode parar aí. Nós não vamos descansar enquanto
não conseguirmos atender o interesse das famílias de forma ampla e
definitiva, e não nos referimos a cesta básica, mensalidade R$ 600 para
auxílio escolar, R$ 400 de assistência médica…”, explicou Mara.
“Não estou menosprezando esse valor, mas o
que você faz hoje com R$ 400 para uma assistência médica? Que tipo de
assistência médica é essa que você consegue com R$ 400 por mês? Nós
somos famílias em que seus provedores foram mortos, pessoas que geravam
as receitas do lar”, continuou.
A AFAV-C garante que seguirá concentrando
seus esforços para que os responsáveis pelo acidente sejam apontados e
para que os seguros que envolviam os contratos referentes a locomoção
aérea possam ser destinados aos familiares que perderam seus entes e
ainda se viram em uma situação financeira delicada.
“Nossa associação não exige que tenhamos
afiliados, tudo que conseguirmos para as famílias associadas, vamos
conseguir para todo mundo. Não preciso que você assine comigo. Os meus
direitos são os seus direitos”, ressaltou Mara Paiva.
“O clube pode liberar verba para quem ele quiser, tem o direito de fazer
isso. O clube não está se negando. Mas, na verdade, isso não é uma
vitória. É uma atitude paliativa. Nosso foco não é paliativo, é
definitivo”.
Apesar de tomar o devido cuidado para não
ser mal interpretada, Mara Paiva não deixou de ser contundente em suas
palavras. A viúva de Mario Sérgio destacou a importância do trabalho da
ABRAVIC, mas a todo momento chamou atenção para a prioridade de se
buscar soluções para adversidades de magnitude superior dentro do caso.
“A ABRAVIC é um primeiro degrau, mas nós
somos diferentes tanto em origem quanto em objetivos. A ABRAVIC não
nasce de um seio de uma das famílias vítimas do acidente. Eu sou vítima,
a Fabienne (Belle, viúva de Cezinha, ex-fisiologista da Chapecoense, e
presidente da AFAV-C) também. E o trabalho deles (ABRAVIC) é
assistencialista, o nossos não. O deles é resolver uma assistência
imediata. É um negócio de uma amplitude muito pequena”, reiterou.
“Não nos atrapalha. Isso até nos ajuda, dá
um pouco de refresco para aquelas famílias de uma necessidade muito
grande, não podemos ser egoístas. Pensando nas famílias, a gente não
pode dizer que a ajuda da ABRAVIC não serve. Serve, mas não é só isso”,
concluiu a vice-presidente da AFAV-C.
Confira a nota oficial da Chapecoense sobre o acordo com a ABRAVIC:
A Associação Chapecoense de Futebol,
afim de se envolver de forma mais ativa, no auxilio aos familiares das
vítimas do acidente aéreo, firmou nesta segunda-feira (30) uma
importante parceria com a ABRAVIC (Associação Brasileira da Vítimas do
Acidente com a Chapecoense).
A parceria entre o clube e a Associação
está inserida dentro da campanha “13º Jogador” instituída pela ABRAVIC. A
campanha tem o objetivo de contribuir com a prestação de auxilio ao
familiares da vítimas do acidente aéreo na Colômbia.
O contrato assinado nesta manhã, consiste
no auxilio mensal de R$ 28.800,00 (vinte e oito mil e oitocentos reais) à
associação, para a execução e promoção de programas de assistência
social aos familiares das vítimas (com ênfase para serviços de saúde),
sempre zelando pela boa qualidade e transparência das ações e também dos
serviços prestados.
O acordo foi firmado até o final do mês de outubro/2018 podendo, em comum acordo ser prorrogado.
Gabriel de Andrade, presidente da ABRAVIC
salientou a importância da parceria. “Hoje foi um dia de grande
satisfação para a ABRAVIC, pois após um longo período de aproximação,
negociação franca e transparente, além da conquista de confiança, de
parte a parte, a Chapecoense abraçou nossa causa e aderiu ao Projeto 13°
Jogador, contribuíndo mensalmente com um valor importante para a
manutenção e expansão dos nossos projetos sociais, possibilitando a
prestação de assistência social de forma mais efetiva e consistente às
famílias das vítimas que mais necessitam de ajuda. Agradeço
especialmente ao Sr. Maninho e ao Fernando Mattos, pela sensibilidade e
disposição contínua em ajudar e por acreditar no nosso trabalho”.
Para o Presidente da Chapecoense,
Plinio David de Nes Filho, a assinatura do contrato é mais um grande
avanço na aproximação do clube aos familiares a às associações. “Essa
parceria é muito importante, principalmente pelo seu caráter social e
também por sua amplitude. A ABRAVIC, já vinha nos atualizando de seus
projetos, antes mesmo de sua constituição e agora conseguimos
concretizar esse importante passo. A constituição das associações também
nos ajuda para que todas as ações possam ser coordenadas de uma melhor
maneira e para que todo o repasse seja realizado de forma mais clara e
fácil”.
Fonte:Gazeta Esportiva








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